Certo dia, peguei um ônibus com destino à AMESPE, seminário teológico no qual estudo. Sentei ao lado de um homem que logo me dirigiu palavras como se fossemos grandes amigos. Confesso que não o olhei, achando aquilo muito estranho, e para evitar que ele continuasse no seu resmungo. Bom, na verdade, aquele homem estava bêbado e além do mais cheirava terrivelmente mal. Senti o desejo de mudar de assento e sair o mais depressa possível de perto dele.
O episódio me fez pensar de como nós muitas vezes tratamos aqueles que não se parecem conosco, como eu estava pensando em tratar aquele homem, saindo o mais rápido possível de perto dele. Quem gosta de ficar junto de um homem bêbado e fétido? Creio que ninguém responderia sim. Mas, é aí que começa a questão do amor incondicional de crentes por não-crentes, de “achados” por perdidos, de cristãos por mendigos.
Baseei o tema deste texto no livro “O Príncipe e o Mendigo” de Mark Twain. Nesta história clássica, o mendigo passa a ser o príncipe e o príncipe passa a ser o mendigo. Aí, é quando há uma profunda identificação de um com o outro. Um sentindo na “pele” o que o outro sentia. Um se parecendo com o outro. Será muito diferente o papel de nós como cristãos num mundo conturbado? Não foi exatamente isso que Cristo fez quando desceu da Sua glória e adentrou na nossa humanidade, nascendo como judeu e sentindo como nós nos sentimos?
Não vou dizer que a tarefa aqui em questão vai ser fácil. Iremos nos sentir incomodados, e fortemente tentados a fugir dos “mendigos” do nosso mundo. O mau odor que sentiremos vai nos fazer desejar estar sentados nos jardins do nosso conforto, apatia e indiferença, sentindo o cheiro das flores do nosso egocentrismo. Mas é aí que gostaria de perguntar: Um dia não éramos todos mendigos? Não fomos todos alcançados pelo grandioso amor de um Deus Paterno? Não teria Cristo se feito, de certa forma, mendigo em nosso lugar, fazendo-se pobre, sofrendo as dores de homem e morrendo numa cruz? Creio que quanto mais entendemos a profundeza do sacrifício e renúncia de Cristo, mais estaremos dispostos a andar com “mendigos”. Que Deus nos ajude!
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