O filho mais novo, ou o filho pródigo, vai ao seu pai e pede a sua parte da herança. Como ele era o filho menor, ele tinha direito a 1/3 da herança, enquanto o seu irmão mais velho tinha direito obviamente a 2/3. Sabemos, contudo, que um filho só recebe a sua herança quando o seu pai vem a falecer. O que o filho mais novo estava pedindo ao seu pai, na verdade, para aquela cultura, era: “pai, desejo que você morra”; “quero pegar o que é meu e ir para o mais longe de ti”.
As riquezas naquela época não estavam em uma conta bancária, ou num cofre especial; elas eram a terra, a propriedade, aquilo que estava na terra. O que o filho mais novo pede ao pai, na verdade, era que o pai dividisse a sua vida ao meio. O pai teria que vender parte da sua propriedade para poder dar o dinheiro da herança que cabia ao filho mais novo. O pai, mesmo dado essas circunstâncias, faz o que o filho lhe pede.
O filho pródigo, então, sai pra bem longe do pai a viver de forma irresponsável, gastando os seus bens. Após certo tempo, contudo, ele fica sem dinheiro, e pede para trabalhar com alguém da região na qual ele estava. Tal empregador o coloca a cuidar dos seus porcos. A necessidade do filho pródigo é tanta que ele deseja até comer a comida que era dada aos porcos. Caindo em si, ele decide ir para o pai para lhe pedir que o colocasse como um dos seus trabalhadores que tinham muito mais do que ele naquela situação.
Quando o filho pródigo está ainda longe, o pai o avista, e corre até ele. Naquela cultura, um pai (um patriarca) não corria dessa forma... As crianças corriam, os jovens corriam, até as mulheres corriam, mas não o pai, a figura de autoridade. Aqui nessa história, porém, esse pai corre, abraça o filho, e o beija várias vezes. O pai ainda pede que seja colocada sobre ele a melhor roupa (possivelmente do pai), um anel no dedo (sinal de autoridade) e sandálias nos pés (próprias de um filho e não de um escravo que trabalhava descalço). O pai ainda manda que se mate o novilho cevado. Algo que era reservado para convidados especiais, para uma ocasião totalmente especial.
Enquanto está havendo uma festa na casa do pai pelo retorno do filho mais novo, o filho mais velho retorna do trabalho e ouve a música e a celebração. Informado por um dos empregados, ele fica irado. O pai sai da casa e tenta conciliá-lo. Ele responde ao pai: “Olhe”. Essa atitude mostra o desrespeito grandioso do filho mais velho para com o seu pai. Ele não diz “pai”, mas ele diz “olhe”. Em outras palavras, ele disse “veja bem você!” Não bastasse essa forma ríspida de tratar o pai, ele ainda faz uma “cena” do lado de fora, sem querer entrar. Ele diz ao pai que nunca havia recebido dele nem um cabrito (comida barata) e que ele havia dado ao filho “pródigo” o novilho cevado (“o caviar”, o melhor que poderia se oferecer). Em outras palavras, ele disse ao pai que merecia receber o novilho cevado, porque ele fazia tudo o que o pai queria.
A grande questão aqui é: será que apenas o filho que saiu e gastou o dinheiro da forma como quis, vivendo da forma como quis, estava perdido? Será que o filho mais velho também não estava? A verdade é que os dois estavam perdidos. O mais novo por fazer o que era mal e o mais velho por fazer o que era bom. Eu sei... Você está dizendo: Como?? O que era bom?? O que acontece é que ele se achava bom aos seus próprios olhos, então, achava que a sua justiça própria contaria aos olhos do pai (de Deus). Ele estava perdido na sua “bondade”... Ou seria religiosidade? O filho mais novo, porém, recebeu o que não merecia pelo amor incondicional do pai (Deus). O filho mais novo recebeu a justiça do pai, o perdão do pai, o amor do pai.
Quantas vezes nós como cristãos achamos que o que fazemos de “bom”, conta como aceitação aos olhos de Deus? Ou que Deus nos deve algo? Que Deus tem que nos pagar, porque, na verdade, temos sido tão bonzinhos, tão corretos, tão “santos”.
Que possamos sempre lembrar que Deus nos aceita apenas pelo que Cristo fez por nós na cruz e de que somos seus filhos amados, e que não há nada que venhamos a fazer ou deixar de fazer que possa mudar o que nós somos para Ele. Como alguém disse: “Não há nada que eu venha fazer que faça Deus me amar mais ou menos”.